quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

ELA MENTE E ENGANA TODO MUNDO...


Rafaela via luxo e clareza em automóveis de dois e quatro pneus. Em dias cansados ou até mesmo de agilidade, gostaria por ventura, de estar instalada no centro do passageiro ou atentamente, pilotando uma moto. Por via de regras, era a mais estranha da cidade. Frequentava a melhor escola, mas tinha pouco poder aquisitivo, poucos amigos e uma sociabilização questionável. Pairavam boatos que havia enlouquecido depois da morte do pai. Não era bem higienizada. O que era estranho para os demais e, motivo de piada, era perturbador para ela. Rafaela adorava caminhadas. Não somente, pela cidade ser pequena e de fácil locomoção, ia ao centro comprar frutas e verduras, legumes e utilidades domésticas, ocupando os dois braços, o esquerdo e o direito. Os membros inferiores faziam o trabalho de mantê-la num estado de completa sincronia entre o andar, o peso que carregava nos braços e o foco de não deixar-se abalar pela zombaria alheia.

E ao caminho de casa, colegas passavam em seus carros, com o maior valor em diminuir a velocidade do carro, só e unicamente para despreza-la e mostrar o tamanho vexame que estava passando, diante da situação. Visivelmente humilhada, olhava para o próprio corpo, e tentava entender o que havia de errado em andar pelas ruas com sacolas de compras. Pensou em ler a constituição para saber se infringia alguma Lei. De fato, Rafaela achou algo interessante. Todas as sacolas que estava transportando eram de plástico, e há questões importantes sobre substituir sacolas de plásticos por bolsas sustentáveis e demais opções ecológicas.

Na cabeça de Rafaela, andar lhe mostraria o que ninguém poderia notar ou imaginar. E por onde andava, observava. Esse é seu objetivo, quando quer andar e caminhar. Não somente por manter as pernas num trabalho de andar, que é a função original, mas unicamente, aproveitar e observar o horário dos vendedores, o horário certo onde há pouco fluxo de pessoas para não pegar fila no caixa e demais coisas, como comparar preços de alimentos.

Até então, Rafaela sabia que o objetivo de seus colegas, era causar humilhação. Contar para todos que ela era uma farsa... Que ela era unicamente pobre, e fingia para todos que era rica, que tinha um grande poder aquisitivo.

Até hoje Rafaela não entende, mas sabe, que é ela mesma. Mente quando convém, mas nunca esconde suas origens. Entretanto, ela sabe, que há sorrateiramente cobras, querendo lhe causar vergonha e, contar uma história, sobre como eu finjo ser o que não sou. E é estranho pensar que a única coisa que Rafaela faz, é viver a vida, e não mostrar uma vida que ela não tem e não vive. Rafaela apenas vive a vida dela... A única diferença é que seus pés estão firmimente fincados no chão, não a deixando flutuar, pois ela sabe que há riscos em brincadeiras de fingir uma vida que não se tem.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

QUEM SOU EU NA AMIZADE?

Imagem Ilustrativa


 Olá, espero que esteja bem...


Quem sou eu na amizade, essa é a questão. Por alguns anos eu fiquei culpando questões exteriores a minha pessoa, não querendo me responsabilizar pelos erros, eventualidades ou distanciamentos de amigos. Em algum momento da vida, eu devo ter falhado. Querendo ou não, nós temos pausas reflexivas; falamos com Deus, questionamos de acordo com o que foi aprendido com os filósofos, culpamos há quem acredite ou não em forças superiores, conversamos com psicólogos ou não aguentamos e vamos ao psiquiatra.

Onde estou errando? Será que estou errando? Será que só por que estou sozinha, a errada sou eu? Ou as pessoas querem me fazer sentir assim? Elas estão magoadas comigo, logo, se afastam, por não ter atendido uma demanda de expectativa delas? Se todos não estão comigo, obviamente eu sou a errada? Não?!

Então, diante de todas as pausas reflexivas que tenho e terei em minha breve vida, me considero culpada. Culpada sem respostas, sem motivos, sem um porquê. Eu devo ter feito alguma coisa que culminou nesse distanciamento: não lutei, ignorei, deixei para lá, fui ignorante.

E se eu não for culpada pelas escolhas erradas diante das amizades que passaram em minha vida, as mesmas saberão que erraram. Nisso de se culpar por tudo, pedir desculpas por tudo, consideravelmente me torno uma pessoa insegura, dependente da aprovação alheia, logo então, sofrerei por não agradar as pessoas. Vê a incógnita? Vê o percurso da perfeição? E como tudo é extremamente delicado em estar presente, vivo e intacto para todos?

É válido nós nos declararmos culpados por nossos atos para até mesmo baixar uma confusão aleatória. Alguém sempre tem que ceder.  

Um dia você estava almoçando com uma pessoa. Você pega o sal ou o papel toalha que está na mesa, e derruba sem querer o copo de suco do/a seu/sua amigo(a). O dia acabou à partir dessa situação. Todos estão olhando, a mesa ficou suja, a pessoa estava na melhor roupa e ia para casa de um familiar... Ambos ficam muito envergonhados(as) com a situação.

A amizade acabou ai? Há quem reaja da pior forma.  

Onde somos culpados? Qual nossa porcentagem de responsabilidade, perante o outro? O outro também tem parcela de culpa em nosso comportamento, sabia? Mesmo me sentindo culpada, sofrendo, sem ao menos saber por que eu machuquei a Dona Melinda por ter passado pela casa dela e ter tirado uma rosa da árvore, a culpa também é da Dona Melinda por ter feito um escândalo, pelo simples motivo de eu ter pego a rosa.

Depois disso tudo, quem sou eu na amizade? Não tenho grandes e fortes laços de amizade, mas quem eu posso ser para cada um que me considera amiga? Quem vou ser se acontecer de amizades opostas, se deram bem comigo, e ambas pedirem para cortar o contato? Perco duas amizades ou bato o martelo e escolho uma das duas? Bato o martelo e fico no meio termo? Café com leite...

Talvez você tenha olhado para mim, e ainda hoje olhe, e julgue como se o futuro não me reservasse surpresas boas. Como se não fosse dar certo. Na sua cabeça, eu possa ter sido uma amiga que não era boa influência, que tinha tudo para dar errado. Digo para você que ainda pode dar errado sim. Como tudo na vida. O futuro é uma incógnita, mas acho que deve saber que existem altos e baixos. Hoje eu posso estar nas alturas, e amanhã pode ser você, mas lembre-se também que há períodos de queda livre. E uma queda livre sem paraquedas, machuca. Há de estarmos preparados para o impacto da realidade. O chão machuca e nada mais representativo que ele para mostrar o quão dura é a realidade, e sabemos que vale para todo mundo, não importa classe social e dinheiro, não importa status e hierarquia. Todos estamos sucintos à uma vida vão, solitária e inútil.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

HÁ MAIS LOUCURA NO SORRISO QUE EM ALGUNS VAZIOS

 Não sou como você: linda, carismática e feliz. Sou infinitamente triste e completamente disposta a sustentar esse vazio e arcar com as consequências de ser ignorada todos os dias. Há uma necessidade de provar que sou normal, mesmo composta pela solidão. Que não há problema comigo e sim com as pessoas de esbanjarem sorrisos cativantes no metrô, ônibus, trens lotados ou em seus maravilhosos carros luxuosos. Faça-me o favor de respeitar o meu vazio e contemplar uma sincera conversa sobre a noite e o inverno; como há beleza nos dias de neve e tristeza nos dias de céu azul. Veja bem, em dias azuis, as pessoas ao menos tem tempo para observar com clareza que, tiveram uma incrível sorte de não estar chovendo, justamente no dia de uma grande apresentação. Ou que está chovendo e ninguém pode sair de casa por motivos de segurança, quando há um encontro marcado, aquele encontro que você iria terminar seu relacionamento de 10 anos. A chuva te deu um tempo para pensar, pensar por algumas horas.

Pudesse eu, ser poderosa e ser feliz com uma bela cigarrilha, uma taça de champanhe desfilando pelas ruas de uma viagem importante que marquei. Sou insuportável à ponto de negar a fumaça, por estar terrivelmente preocupada com a cor dos meus dentes e completamente apática com bebidas de mulheres.

Aprecio um belo vinho, confesso que duas à três taças são suficientes. De resto, meu estômago é terrivelmente meu inimigo, e faço dele minha justificava para qualquer coisa. Na tristeza e com ela, tive que buscar caminhos para viver em sociedade e ser agradável mesmo falando da naturalidade de ir embora para sempre. De não voltar mais. De ser feliz mesmo cheia de vazio. Na presença constante com você quinzenalmente falando de dias insuportáveis e dores que não entendo. E tenho um sonho de ter um fixo relacionamento com uma mulher ou um homem acima dos 50 anos. Creio que pessoas maduras me entenderiam. Espero que riam da minha dor e digam que há solução, que não há nada demais, que há como consertar e viver. Que digam que estou no caminho certo e que realmente, aprovei a solidão. Que consigo conviver com ela e não sentir vergonha.

Busquei formas adaptáveis de caricaturar essa nova forma de viver a vida. Já perdi todos, tenho em mim todas as possibilidades e margens de erros para que tudo dê completamente errado. Há quem me venha pedir para sentar, contar algo terrível ou apenas um desejo e digo, - Vai dá tudo certo. Alguém sempre me diz que estou me responsabilizando caso não dê certo. Então imagino, ele ou ela correndo pelas ruas e perguntando aos poucos que me conhecem, perguntando onde poderiam me encontrar para dizer, - Deu tudo errado! Como você pôde ousar mentir para mim?

Um devaneio ao tomar um chá enquanto pensava que poderia estar iludindo ou produzindo um trauma do qual não poderia estar preparada. Será que ela está preparada para vida como eu estou? Será que me sinto preparada para vida, somente com as dores e as perdas que tive durante viva?

E mesmo aqui, olhando para você, segurando meu chá, há possibilidades de felicidade. Tantas... Principalmente hoje, ontem e amanhã. Os dias que você me faz feliz e é minha completa companhia. Você acha normal, minha solidão.

Este é meu pensamento, logo à noite, antes mesmo de ontem quando saímos. Enquanto você pede com gentileza ao garçom para tirar a cebola do prato que pedi, com paciência e felicidade no sorriso... O teu sorriso que me faz entender a felicidade... O meu vazio vai embora. Uma caixa vermelha que lentamente tira do bolso... e a surpresa que tenho para te contar, surpresa que está dentro de mim. Penso que até Deus entende minha solidão, então me sinto grata. Me sinto grata.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

MINHA BREVE CAMINHADA PELA PSICOLOGIA

 
Caixa de Skinner - Foca na cabeleira


Olá, espero que esteja bem...


Nos meus anos de Psicologia, o que eu mais passei foi raiva. A raiva é uma emoção normal diante de tanto stress e mudança de vida e de comportamento. Mas não tão normal assim. A postura adotada no campo da psicologia é muito específico. Como todas ou poucas/várias áreas é preciso ter ética, e a profissão dá um caminho muito satisfatório sobre como atuar na psicologia e manter a ética diante de uma situação, na qual o outro se encontra em sofrimento. Estar abraçada por vertentes e estudos que tratam e respondem as dúvidas do sofrimento humano, não abona o sofrimento do profissional ou do estudante de psicologia. O que mais pegava para mim, era a questão do equilíbrio emocional. É preciso ter uma responsabilidade emocional e aprender a construir uma base emocional sólida para estar preparada ou pelo menos consciente de uma situação totalmente inesperada que possa acontecer. Sinto inveja de quem tem essa maturidade emocional, sem ter passado por um terremoto ou um trauma muito grande. Por que é fácil brigar com uma amiga depois de ter descoberto uma traição com o namorado ou namorada, e conversarem e se perdoarem. Isso é maturidade emocional? Na minha perspectiva, controle emocional é sair de um bombardeio sem nenhum trauma, conseguir fechar os olhos e dormir sem nenhuma medicação. A minha saída do curso de psicologia é totalmente particular, individual. Não cabe jogar na internet os motivos, por que tu não fez parte da minha vida. Grosserias fazem parte.

Mas haviam poucos colegas que me chamaram para voltar.

O mito do psicólogo centrado, paciente, com coração livre de angústias, uma pessoa bem desenvolvida, sem problemas, é um mito. A responder por minha pessoa, Rafaela. É um desafio, muitas vezes até prazeroso, porque você pode estar com um conflito muito grande no âmbito familiar e mesmo isso abatendo, é preciso estar presente, firme, bem, para o outro. Depois que passa, você se olha e de alguma maneira, se sente orgulhoso, mesmo com dor.

Com essas vertentes e muito conhecimento, a cabeça meio que cansa. Muita informação, muita organização, muita cobrança. Tu deve se questionar porque fulano se formou e eu não. Resposta: Particularidades. Acredito que não há quem não sofra, mas há quem acredite que casamento, filho, ideologia, amor, e todas essas questões que envolvem certa entrega emocional, pode te tornar um profissional excelente, porém solitário. Ou não, são escolhas. Como assim? Sem filhos, casa, companheiros e dividas, não há muito com o que se preocupar, só com o crescimento profissional mesmo. Você pode desenvolver habilidades através de livros, conhecer tudo sobre tudo (risos) através de livros, se ausentar do mundo (não totalmente), e sentir-se uma máquina. Lembrando que na psicologia, você quase se transforma num robô. Não por que você se considera assim, mas te abrem um campo no qual “ué, você não pode gritar”, “você não pode chorar”, “você precisa estar o tempo todo na santa paz da alma existencial”. Cobranças, cobranças, cobranças. A alma egoíca nunca está em paz. É ela que enfrenta todo esse mundo que nos traz angústia, inveja, sofrimento... Essa parte primeira. Exemplo: Para chegar no ouro, é preciso bater na pedra e a pedra é dura. Essa parte egoica é a que leva as marretadas da vida e protege nosso ouro. Nosso estado de não loucura.

No momento que você vive a Universidade e veste a camisa, o mundo lá fora não existe. Isso é uma das regras fundamentais quando escolhe um curso para vida ou enfim...Esse comportamento é consciente ou inconsciente, depende de como você enxerga a vida e o mundo acadêmico. Vestir a camisa da Universidade, e fazer valer. Nesse amplo mundo de pessoas, comportamentos, regras, competição, noites sem dormir, a partir do momento que você aprende a dirigir, não digo que nunca, mas raramente tu vai estacionar o carro errado. No início é complicado, sem dúvidas. Há descoberta de pessoas que são e foram muito importantes para sociedade e para o desenvolvimento da ciência, como também há uma descoberta muito genuína sobre quem somos e o que somos. Não vou pontuar questões religiosas aqui. É preciso respeitar as casas ideológicas, de conhecimento, vertentes etc. Estou tentando ser imparcial, mas é totalmente impossível.

Como falei lá em cima, a minha raiva era invisível. Então, particularmente uma passiva-agressiva. Não vão me rotular não. Posso estar equivocada? 100%. Me percebia em várias situações, onde o mundo estava desabando e eu estava sorrindo. Era uma característica que foi me somatizando a não entrega total das lágrimas, das emoções. O que eu escondi na psicologia, como traço, desde infância de chorar, hoje apareceu e eu deixo essa criança viva. Acho que é preciso manter nossas crianças felizes. E ser sincero com os sentimentos é uma questão de lealdade consigo, independe do que vão pensar. Com essa minha ausência, parada, vou pedir minha aposentadoria no INSS e viver viajando... Brincadeira.

Com essa minha ausência, só posso dizer que está sendo de grande importância. Importante por pensar o que fiz de errado e o que posso tornar diferente e não repetir nas próximas etapas da minha vida... É um trabalho. E quem sabe, recomeçar na Psicologia. 

Se eu não enlouquecer. Ahahahaha. 

 

Obrigada por ler

Beijinhos!

DOCE

 Tu mentes como também oculta pensamentos. Estes deveriam ser meus, e compartilhados a mim que por ti estou, mas não há nada que possa fazer...

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