- Eu nunca serei como ela - Respondeu chorando.
- Não quero que seja como ela.
- Você me esconde... Sou um fantasma. – Limpou as lágrimas – Não sei
exatamente como entrei nessa situação, mas se eu...se eu soube entrar, pode ter
certeza, saiba bem que vou conseguir sair.
Antes mesmo de tudo acontecer, ele veio atrás. Por algum motivo tentou
comunicação; conversamos sobre amizade, comida, posições políticas e nos
beijamos. Foi rápido se comparado a meu outro relacionamento.
- Não quero que seja como ela. Já disse. O que há? – Perguntou angustiado.
- Você
- Eu?!
- Sim.
- O que eu fiz?
- Me colocou nessa situação. – Saiu limpando as lágrimas.
Eu tive que sair. Por movimento do Universo, perto de chegar à casa dele,
avistei ela. A então namorada quase noiva. Estava levando vinho e algumas especiarias.
Virei num instante e então olhei para trás com esperança que tivesse retorno.
Ela me olhou com um olhar distante e julgador. Quase que forçando a visão para
entender se era alguém. Quando ela entrou, mesmo sem entender porque estava
parado na neblina, ele me olhou. Logo em seguida ela o abraçou e o beijou.
Poderia ter uma trilha fantástica? Uma vida perfeita? Um relacionamento incrível?
O máximo que aconteceu foi chegar em casa e ter várias ligações perdidas.
Oi meu amor. As coisas estão
difíceis aqui sem você. Minha família está nessa de viagem... Sabe como é. Mas
sinto falta de você aqui. Esqueça o que minha mãe falou... Sabe, no jantar. Não
foi para te magoar. Me sinto melhor você longe de qualquer confusão que
aconteça por enquanto. Já és parte da família.
Sim. Uma aventura. Traindo meu noivo com data de casamento marcada? Sim.
O amor... Se ele soubesse o que guardo. Não é romântico. Machuca. Estar sozinha
é completamente vazio. Chegando em casa, vesti-me para dormir e acordei com um típico
enjoo matinal. Em dias de grandes impactos emocionais e percas, acordar fora da
existência é típico e afeta meu estômago. Fiz um chá e separei alguns biscoitos.
Os dois não chegaram a ficar na boca. Deixei de lado.
- O que quer aqui?
- Conversar.
- Homens conversando? Quer o que? Discutir relação? – Perguntou em
negativo - Eu e você temos compromissos. Pode ir embora. A porta é serventia da
casa.
- Frases feitas, efeitos bonitos.... Tudo para ficar por cima. –
Respondeu rindo.
- Ah, por Deus. Não acha que já
feri meu ego o suficiente?
- Tudo bem. Mas eu preciso de você. Até lá podemos esconder, ninguém está
se magoando aqui. Eu prometo que de alguma maneira não vamos sair magoados. –
Aproximou jurando as duas mãos. – Ninguém vai se ferir. Você não quer ferir seu
noivo, eu não quero ferir minha noiva, ambos não se conhecem. Podemos sair
disso quando tudo voltar à normalidade.
- Normalidade?
- Casualidade. Isso é casual.
- Sim.
- Então! Somos adultos. Quem vai saber? Já havíamos conversado sobre
isso.
- Deus vai saber. O assunto esteve em nossas conversas, mas não imaginei
que faria parte disso... Dessa situação.
- Ah! – Suspirou. – Isso é uma afirmação. – Você acha que eu planejei
tudo isso? Encontrar você?
- Isso é um Aaaaaah!
- Hoje tem cinema. Já comprei os ingressos. Vamos?
Independente da minha irresponsabilidade, não tinha como fugir dessa
história no momento. Às vezes o destino ajuda corações solitários e vazios de
uma maneira injusta. O jogo do amor é complicado quando amamos demais e estamos
conectados. Mesmo aceitando voltar a bagunça, sabia dos riscos, mas a vida tem
essa de ajudar as pessoas que estão sofrendo. Não estávamos magoando ninguém, estávamos
sendo felizes. Só queríamos aproveitar aquele momento como uma página de um
livro... Sem ferir ninguém.