terça-feira, 2 de maio de 2017

"ISTO É HORA DE VOCÊ CHEGAR EM CASA RAPAZ"

Oie, pensei bem antes de publicar esse texto. Encontrei nos arquivos e pastas perdidas do computador, minha análise do filme. Óbvio que a realidade não é 100% ficção, mas espero não deixar revoltado e envergonhado quem entende do assunto.
Sou só mais uma que acredita e, tem como exemplo, este cantor que deixou sua história.




Gonzaguinha e Luiz Gonzaga
Luiz Gonzaga foi um cantor popular da música nordestina, e o primeiro a mostrar o ritmo da sanfona, para outros estados do Brasil, se tornando conhecido e chamado de o rei do baião. Quando jovem, tinha planos de se casar com uma moça bonita pelo interior de Recife, em sua terra natal, chamada Exu. Seus planos poderiam se concretizar, se o pai de sua namorada, não fosse tão ditado pelas regras nordestinas da época. Filho de um trabalhador que consertava instrumentos musicais, e uma mãe dona de casa, Luiz não aceitou o desprezo por parte da família de sua namorada, que o considerava m “pobre coitado”, com essa situação, enfrentou “o ex-sogro”, que apesar de não mata-lo, ameaçou sua família e pediu que ficasse longe de Nazinha. O complexo de inferioridade existe na cultura nordestina, e para Luiz, esse sentimento cresceu quando decidiu sair de Exu, e enfrentou as dificuldades de morar em outro estado, com outro tipo de cultura. No nordeste as mulheres eram donas de casa, submissas ao homem, e chegando ao Rio de Janeiro, se envolveu com uma dançarina, com costumes cariocas que diferente das mulheres que conhecia no interior, trabalhava e se sustentava sozinha, havendo um choque cultural. Desde que decidiu sair de Exu, nunca teve como objetivo se tornar músico, mas por sobrevivência, conseguiu popularizar a música nordestina depois de ter sido um militar. Seu grande objetivo era voltar para Exu formado, e se casar com Nazinha, para mostrar ao seu Pai, o homem que havia se tornado. O tempo passou e Gonzaga teve relacionamentos, voltou a se encontrar com sua família, e teve um filho, Gonzaguinha a qual teve mais dificuldades de se relacionar. Sem saber sua raiz, Gonzaguinha quando mais velho, foi atrás de seu pai para saber quem era, de onde tinha vindo, qual a sua origem como pessoa, sua identidade. A infância e adolescência, de Gonzaguinha foi de muita ausência por parte de Luiz e essa ausência o tornou - por trás de toda rebeldia - um homem triste e carente do amor de pai. Apesar de ser estéreo, para mostrar e se honrar como homem, tendo seu filho, nunca deixou faltar nada para Gonzaguinha. Em termos antropológicos, Luiz depois de ter perdido Nazinha, ter apanhado de sua mãe e ter sido desprezado por ser considerado inferior, por classe social e etnia, enfrentando problemas profissionais e a relação conturbada com seu filho, apresentou sinais de um homem magoado, e sem expectativas maiores sobre a própria vida, além de voltar para Exu. Luiz Gonzaga notado pelo homem que foi, nada mais fez, além do que cumprir com o papel cultural de homem e trabalhador nordestino da época.
Além do complexo de inferioridade, e o choque de culturas, Antropologicamente mostra que apesar de todas as dificuldades, Luiz por sobrevivência enfrentou a inferioridade, apostou na sanfona e se tornou conhecido. O filme também retrata o poder da mulher no grupo social familiar e como em algumas questões, o homem se mostra inferior às situações que são postas para mulher. Para Gonzaguinha a relação conturbada com seu pai, era uma forma de mostrar que a relação de Pai e Filho não envolve apenas, a disponibilidade material para nascer o laço de amor, mas sim a relação presente onde envolve a troca de sentimentos, tornando possível a verdadeira relação de pai e filho. Já para Luiz, toda sua postura de homem sério, era certa, e considerada para ele normal. Por não ter conseguido se tornar doutor, seu sonho foi transferido para Gonzaguinha, que cumpriu com a promessa e se formou em economia.
Com uma história completamente rica sobre a cultura nordestina, contribuiu para mostrar a força de vontade dos nordestinos, apesar de toda inferioridade. Mostrou a fragilidade dos nordestinos diante de uma decepção e como a cultura se torna uma grande influência sobre a vida das pessoas e como em alguns casos isso pode ser ruim.
A cultura é uma dimensão que parece afastar as pessoas e transforma-las em inferiores e superiores, mas não importa quem você é ou de onde você veio, o que importa é que apesar de todas as diferenças, em alguns aspectos, todos nós somos um pouco iguais. É como mostrou Gonzaguinha, que foi criado no Rio de Janeiro, com uma cultura carioca, moderna, conseguiu se formar e não exerceu a profissão, já que sempre teve como influência superior e referencial de vida, Luiz, seu verdadeiro Pai e amigo, um nordestino. 

GONZAGA. De pai pra filho, 2012.

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DOCE

 Tu mentes como também oculta pensamentos. Estes deveriam ser meus, e compartilhados a mim que por ti estou, mas não há nada que possa fazer...

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