sexta-feira, 16 de junho de 2017

O MISTÉRIO DE ANA LU



Imagem Ilustrativa Sara Kay

Ana Lu é uma menina de quatorze anos, mora na casa de qualquer pessoa que acolha com cuidado e carinho. A terra nunca foi motivo de não andar ou impedi-la de ver o mais lindo pôr-do-sol, sempre foi selvagem e tanto para correr e saltitar como um sapo. Ana Lu gostava de copiar a vida dos animais, quando podia, se agarrava em uma árvore para imitar um bicho-preguiça. É que ela gostava de fazer rir e deixar bem a própria alma, sem saber disso.
Mais ela pulava e saltitava como uma menina de quatorze anos pela trilha que havia entre as folhas mais verdes e bonitas. Durante todo o caminho, cantarolava músicas que existiam em sua cabeça, desde que lhe fornecessem inspiração alguma imagem. Era tudo sem contexto, no contexto dela, a melhor música de todas. Durante o domingo, Ana Lu não tinha muito o que fazer já que, durante sua linda semaninha, cumpria todas as regras escolares. O Pai sempre a reclamava para estudar e, depois brincar de casinha. 

- Ana Lu, primeiro estudo, depois brincar.  

Durante a semaninha, ela ansiava para brincar com Antônio, seu amigo depois da trilha cantarolada, e cantava como se os pássaros ouvissem-na e sentissem total inveja.

De longe Antônio viu sua amiga aos pulos, chegando com um ramo de galho verde, tirando todas as folhas e cantando alguma coisa que ele não conseguia entender. Pulava que parecia tocar o céu. A sensação que ele tinha é que iria fazer isso, tocar o céu a cada pulo. Ele abriu um baita de um sorrisão ao vê-la e saiu correndo alegremente para abraça-la, soltou o balde de leite que iria tirar, gritando por seu nome “Ana Lu, você veio”, “Ana Lu"! e voou em seu corpo pequeno como se não se vissem a séculos.  
Entusiasmado, chamara para divertirem-se juntos:
 - Ana Lu, vamos tirar o leite da branquinha, vamos!
- Antônio, cadê sua mãe?
- Foi na rua com o meu pai vender coentro.
- Coentro?
- É.
Imagem Ilustrativa
Fechou os olhos na mais ingênua respiração e, sorriu imaginando a cena mais linda que poderia ver em toda sua pequena vida. Saiu correndo, passando por todas as galinhas e patos que estavam soltos, alimentando-se de milho e ração. Parou sobre um bloco de terra meio molhada e, se deparou com o sol batendo na horta mais linda que já viu. Fechou os olhos e, respirou profundamente sentindo o cheiro da hortelã, camomila e Endro. Abriu um sorriso gratificante como se tivesse tirado uma foto com os olhos.
Sentiu uma mão suja e molhada pegando em seu braço e puxando-a. Era Antônio:

- Vem Ana Lu, vamos!
Saiu sendo guiada por seu amigo, sorrindo. Havia tirado a melhor e mais linda fotografia em seu olhar. Antônio viu o rosto de sua amiga julgando engraçado, contudo, já sabia como ela era, toda sonhadora. Tudo lhe encantava, com um toque de Ana Lu, tudo virava mágica, poesia, fantasia.

- Ainda bem que você está aqui... esperei por você toda a semana para brincarmos nas arvores. Você não sabe o tanto de frutos que nasceram. Podemos sair por todo esse território e não vai ter nadinha, nada. A gente pode pular e, brincar e se divertir como nunca. Vamos levar a cereja também. Ana Lu? Ana Lu? Está empolgada? Vamos!
- Estou empolgada molequinho, só estou pensando na fotografia que tirara. 
Rindo, jogara pasto em Antônio.
- Ei, ei, ei. Não! ´
- Deixa de ser chato, não falta comida para ela.
- Respeita, ela fica magoada. Não sabe que os animais sentem?
- Sei, eu sei. Eu sou uma. Imaginou-se na árvore, agarrando-a como se fosse um bicho preguiça e riu de si mesma.
- Por que está rindo, borboleta?
- Eu me segurei na árvore azul, e imitei um bicho preguiça.
Imagem Ilustrativa Sara Kay
Os dois riram e brincaram dentro do estábulo, sem parar, dando voltas e brincando de pique-pega até os pais de Antônio chegarem.


Não me esqueço dela nunca. Não consigo encarar a trilha ou brincar no estábulo. As lembranças que tenho da Ana Lu, são essas e muitas outras.

- Vem Antônio, vamos. Quem chegar mais rápido, é a mulher do padre.
Antônio sentiu algo diferente nela, seu olhar estava diferente. Seu coração deu uma pontada. Não sabendo reconhecer aquela sensação, correu com sua amiga, mas algo forte lhe parou.
Gritando entre as árvores, Ana Lu se encontrava distante a ponto de o eco da voz de Antônio, não chegar até ela:
- Pare, por ai não! É a estrada...

Ana Lu continuou correndo e, o vento que batia em seus ouvidos, cobria barulhos externos, corria com os olhos fechados, sorrindo de felicidade.

- Ana Lu, pare! É a estrada!

Continuei gritando o seu nome, mas ela não parou... eu senti que estava diferente, as coisas estavam diferentes. Estava tudo mais cinza, o meu coração estava batendo, bombeando sangue cinza.
Imagem Ilustrativa Sara Kay
De repente ouvi um barulho estranho de um carro da cidade. Senti um cheiro de borracha queimada quando meu coração acelerou e vi o dedo de Ana Lu com o anel que havia dado, no chão. Na hora parei por instantes e queria vomitar. Gritara o seu nome sem parar e chorava continuamente.
Hoje, como se ainda estivesse aqui, deixo sobre ela as melhores flores e, junto guardo o anel de acrílico em forma de diamante que encontrei como brinde, no salgadinho da tenda.
Nunca esquecerei de seu sorriso.

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DOCE

 Tu mentes como também oculta pensamentos. Estes deveriam ser meus, e compartilhados a mim que por ti estou, mas não há nada que possa fazer...

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